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Convento de Montariol

1- Antes dos Franciscanos

A colina que hoje é conhecida por Montariol, na cidade de Braga, primeiro foi conhecido por Monte Calvelo. Uma colectânea de textos (Liber Fidei Sanctae Bracarensis Acclesia) do século XII e XIII apresenta dois textos com referências ao Monte Calvelo. 
Um dos textos é do ano 873 da nossa era, onde o Monte Calvelo é um dos pontos determinantes dos limites da cidade. O outro texto é de 1073, uma escritura duma herdade situada em Gualtar, no sopé do Monte Calvelo.
Na Segunda metade do século XIII D. Martinho Geraldes (1256-1271), que também exercia jurisdição sobre Braga, institui o morgado de Montariol.

O topónimo de Montariol, segundo Jerónimo Contador de Argote, historiador setecentista, deriva de monte e areia, étimo também presente na designação do vizinho lugar Areal.

Em 1562 a Quinta situada na colina de Montariol foi comprada pela Companhia de Jesus. Aí foi construída uma casa de campo para o pessoal do seu Colégio de S. Paulo de Braga, que lhes tinha sido concedido dois anos antes pelo arcebispo D. Frei Bartolomeu dos Mártires.
O superior de Montariol era o reitor do Colégio de S. Paulo. O primeiro superior foi o Beato Inácio de Azevedo, mártir às mãos dos calvinistas franceses em 1570 no mar das Canárias, quando se dirigia para as missões do Brasil. No princípio da história de Montariol está um santo minhoto.
Não é fácil saber se os limites da Quinta dos jesuítas coincidem com actual propriedade dos franciscanos. Do período jesuíta temos ainda o portão de pedra ao fundo do escadório, datado de 1698 e encimado pelas armas da Companhia de Jesus (JHS). Provavelmente parte do muro que vai daí até à tipografia ainda é desse tempo. Desse tempo podem ser algumas árvores vindas do Japão, como japoneiras e camélias

A expulsão dos Jesuítas, decretada pelo Marquês de Pombal em 1759, veio interromper dois séculos de presença dos discípulos de Santo Inácio.
A casa e a quinta foram compradas pelo pai do Conselheiro Francisco Manuel da Costa (1806-1874). Este político, rico proprietário, foi deputado e governador civil de Braga durante a monarquia constitucional. Em 1870 foi agraciado por D. Luís com o título de 1º Visconde de Montariol. Em 1874, Montariol transitou para Manuel Maria da Costa Alpoim, nomeado nesse mesmo ano visconde de Negrelos. Foi no tempo do visconde de Montariol que foram construídas, ao fundo da quinta, casas de habitação, com porta para o Areal, no sítio ocupado agora pela tipografia.


2- A presença dos franciscanos em Montariol (1890-1910)

Por decreto de D. Pedro IV, de 28 de Maio de 1834, foram extintos todos os conventos masculinos em Portugal. Havia, nessa altura, 7 províncias franciscanas em Portugal continental, 1 província e uma custódia nos Açores e 1 custódia na Madeira e mais 5 seminários apostólicos: Varatojo, Brancanes, Vinhais, Mesão Frio e Falperra.
Foi em Varatojo que recomeçou a vida claustral franciscana em Portugal. Em 24 de Dezembro de 1860 o convento foi comprado pelo egresso varatojano Frei Joaquim do Espírito Santo. Reabriu a 7 de Fevereiro de 1861. A intenção não era restaurar as antigas províncias, mas apenas recomeçar a vida franciscana em Varatojo, com os estatutos próprios que sempre teve. Só em 1883, com a visita do Ministro Geral, Fr. Bernardino de Portugruaro, um pequeno grupo foi motivado para a restauração de uma província franciscana em Portugal. O principal animador deste movimento foi Fr. Domingos Sanches, guardião de Varatojo e de São Bernardino, perto de Peniche, o segundo convento a ser comprado. Em 18 de Novembro de 1891 foi restaurada a Província de Portugal.

Um ano antes da restauração da Província de Portugal foram compradas, pelo Fr. Domingos Sanches, as casas e a Quinta de Montariol, levadas à praça pela Companhia de Crédito Predial Portuguesa ou Banco de Crédito Predial que as tinha recebido como hipoteca. A escritura foi assinada em Lisboa a 8 de Agosto de 1890. A primeira missa no novo convento franciscano foi celebrada a 16 de Agosto e no fim do Outono desse ano já lá vivia uma comunidade de franciscanos.
As dependências primitivas não serviam por serem pequenas e depressa se decidiu pela construção duma nova igreja e dum pavilhão entre a antiga casa dos jesuítas e a igreja, para estudantes de Filosofia e teologia. A 5 de Maio de 1891 começou o desaterro e a 27 de Setembro lançou-se a primeira pedra, cerimónia presidida pelo arcebispo D. António Freitas Honorato. Em Novembro de 1893 o novo edifício já albergava 17 estudantes. A construção da igreja demorou mais tempo. A 14 de Julho de 1904, dia litúrgico de São Boaventura foi inaugurado um majestoso órgão de fabrico austríaco. O altar-mor, de mármore foi obra do canteiro franciscano Fr. José das Dores e foi assente em 1905. Abriu ao culto no dia 8 de Dezembro de 1905 e a inauguração solene só se realizou a 8 de Dezembro de 1908.
A construção do convento de Montariol mobilizou a população da redondezas que ajudaram com muitas ofertas em madeira de castanho usadas no travejamento e caibramento do tecto, nas talhas, portas e coro. De Amares, Vila Verde, Terras de Bouro, veio essa madeira, fruto dos peditórios levados a cabo por Fr. Bernardino e Fr. José de Cristo. Muitas carradas compostas por 20, 30 e 40 carros de madeira eram recebidas em Montariol, muitas vezes com missa e sermão, como deixou escrito Fr. Bartolomeu Ribeiro que estudou em Montariol de 1893 a 1900. Daqui se vê o apreço em que eram tidos os «Fradinhos de Montariol», como eram conhecidos.


Até 1910 Montariol foi sobretudo casa de estudos.

 
- Filosofia e Teologia, de outono de 1890 a Outubro de 1900, com interrupção de Abril de 1901 a Maio de 1904, período em que os estudantes foram transferidos para a Província Franciscana de Andaluzia e para o Colégio de Santo António de Roma.
- Preparatórios e Humanidades, de outono de 1890 a Outubro de 1906, com uma interrupção entre Abril de 1901 e Abril de 1902. Em 1906 o Colégio Seráfico transferiu-se para as Necessidades, em Barcelos.
- Escola primária pública, na casa ao fundo da Quinta, para rapazes do arredores. Esta Escola funcionou durante vários anos, sendo professor o irmão leigo Fr. Rodrigo de Carvalho.

Além de casa de estudos, Montariol foi também um grande centro de irradiação apostólica em Braga e em todo o norte do país. Além do ministério da pregação e do confessionário, foram criadas numerosas Fraternidades da Ordem Terceira Franciscana e de Centros da Juventude Antoniana, que tinha sido fundada em Braga em 1896, na Igreja dos Terceiros, pelo Fr. João da Santíssima Trindade. Dois eventos da época falam bem da acção apostólica dos Franciscanos em Braga:

- Na cerimónia da inauguração do Cruzeiro situado na colina de Montariol, a 1 de Janeiro de 1910, para assinalar a passagem do século, assistiram 18.000 pessoas que escutaram o celebre pregador Fr. Manuel das Chagas.

- Na peregrinação ao Sameiro, organizada para assinalar o VII centenário da fundação da Ordem Franciscana, participaram cerca de 30.000 pessoas entre as quais 3.000 irmãos terceiros e 2000 da Juventude Antoniana.

Foi de Montariol que partiram os primeiros missionários franciscanos para as missões de Moçambique em 1898, facto que foi também marcado com uma procissão de despedida ao Sameiro. O superior do grupo era o Fr. António de Santa Maria Correia da Silva, professor de Filosofia e Teologia e guardião do convento de Montariol.

Antes de 1910 os Franciscanos de Montariol fundaram quatro publicações periódicas, destinadas à irradiação apostólica:

Voz de Santo António. Revista de cultura e informação e formação religiosa, fundada em janeiro de 1895, no ano jubilar do nascimento da Santo António. Depressa atingiu os 3.000 assinantes, o que era muito para a época.. Foi suspensa pela Santa Sé em maio de 1910, depois de uma série de mal-entendidos e intrigas de alguns sectores ligados aos jesuítas, derivado a posições políticas e religiosas assumidas pela revista.

Almanaque de Santo António. O mais antigo almanaque português do género. O primeiro número saiu em 1898 e refere-se a 1899.

Estampas Piedosas. Pagela mensal destinada à Ordem Terceira, começada em Fevereiro de 1903 e que ainda se publicava em fins de 1905

Boletim Mensal. Começou por ser, em Abril de 1908 um suplemento da Voz de Santo António. Em Abril de 1913 a revista aumentou o formato e apareceu com o título Boletim Mensal das Famílias Católicas. Em Janeiro de 1923 passou a chamar-se Boletim Mensal da Ordem Terceira e Missões Franciscanas Portuguesas, designação que manteve até Dezembro de 1954. Em Janeiro de 1955 a revista surgiu remodelada com o nome de ALMA, com a contagem de série do Boletim. Em 1976 a ALMA foi suspensa e deu lugar, em 1977 à Paz e Alegria, editada por toda a Família Franciscana Portuguesa.
Nos meados de oitenta foi suspensa a Paz e Alegria.

No princípio do século, devido ao Decreto de 10 de Março de 1901, que activava a legislação de 1834, o ensino teve que ser abandonado em Montariol, mas por pouco tempo.

A crise foi muito mais grave em 1910, quando o jacobinismo revolucionário quis aplicar a legislação de Marquês de Pombal e a legislação de 1834 referente às congregações religiosas, com o Decreto de 8 de Outubro de 1910.. Os jesuítas foram expulsos e os outros religiosos não podiam viver em comunidades de mais de três e os seus bens foram todos arrolados.

Prevendo os acontecimentos, os franciscanos compraram fatos seculares e dispersaram-se tranquilamente. Os estudantes de teologia e Filosofia foram encaminhados para a Suíça e Alemanha. Os outros frades foram espalhados por uma série de residências no norte do país em grupos de três ou mais, uma vez que os irmãos leigos passavam por empregados. Antes de 1910 fundaram-se duas residências em Braga.
O Decreto de 8 de Outubro foi executado em Montariol nos dias 10 e 12 desse mesmo mês, com alguma delicadeza. O guardião Fr. André de Araújo ainda teve tempo de salvar e de recolher em lugares seguros mobília da casa, várias imagens e alfaias da igreja e parte da biblioteca e do gabinete de física. O resto foi sendo destruído pelos militares aquartelados em Montariol desde 1911 a 1913. Sabe-se que muitos livros e os tubos do célebre órgão foram vendidos pelos soldados. Depois de 1913 a entrada era livre e tudo foi abandonado.
Do recheio da igreja ainda existem elementos anteriores a 1910. Do órgão existem dois anjos, agora à entrada da capela-mor. O imponente guarda-vento foi vendido em hasta pública e está agora no Santuário do Bom Despacho, em Cervães, Vila Verde. O altar-mor, de mármore, esteve bastante tempo na Sameiro, mas voltou ao seu lugar em Setembro de 1932. Há quatro imagens primitivas: as do Sagrado Coração de Jesus e de S. Francisco (datadas de 1904 e 1906, ambas do escultor Fernando Caldas, discípulo de Soares dos Reis); a de Santo António (esculpida no Porto em 1897 por José Coelho Vital); a da Imaculada Conceição, também de Coelho Vital), passou mais tarde para o Colégio de Santo António de Tuy e encontra-se hoje no Seminário Franciscano da Luz, no vestíbulo do coro da Igreja.

A presença franciscana sofreu um demorado interregno de 1910 a 1928. Mas os trabalhos de ministério e publicação da revista Mensal e Almanaque de Santo António continuaram. A presença franciscana manteve-se durante esse tempo

Apesar da espoliação de 1910 e depois de ser construído em Tuy o Colégio de Santo António, os Franciscanos não desistiram de Montariol, reclamando judicialmente os direitos sobre a propriedade, em conformidade com os decretos de 8 de Outubro e de 31 de Dezembro de 1910. A causa foi ganha por decisão favorável do Supremo Tribunal emitida em 1923 ou 1925. Depois da sentença ocupou-se a casa e entregou-se o cultivo da Quinta a um caseiro, sob a administração do superior da residência do Campo Novo.


3- A presença franciscana em Montariol depois de 1928


A recuperação jurídica do Colégio de Montariol aconteceu numa altura propícia ao incremento da vida franciscana em Portugal:

- As celebrações do VII centenário da morte de S. Francisco em 1926-27 despertou no país uma onda de simpatia muito favorável ao franciscanismo.
- Por outro lado houve da parte do Governo republicano o reconhecimento do valor humanitário e cultural das Missões Católicas e das suas casas de estudo.

No dia 13 de Outubro de 1926 o Ministro das Colónias promulgava o estatuto Orgânico das Missões Católicas Portuguesas que definia a situação jurídica das mesmas. Nesse contexto eram atribuídos subsídios às casas de formação missionária, desde que funcionassem em território nacional.
Logo se passou o curso de humanidades do Colégio de Santo António de Tuy para Montariol, em Novembro de 1928, fixando-se a Teologia em Varatojo, em Outubro de 1928.

Em Montariol foi necessário resolver o problema das instalações. Depois de 12 anos de abandono só se aproveitou a igreja e os aposentos anexos. Foi aí que se instalou o Preparatório. Fizeram-se várias adaptações no corpo da igreja, no coro e nas dependências anexas e aí se albergaram os seminaristas a partir de Outubro de 1928. O dormitório ficou no corpo da igreja, o coro servia de salão de estudo e a capela e salas de aula foram instaladas nas frias dependências laterais. As refeições eram servidas no átrio da igreja, o pequeno almoço e nas casas ao fundo da Quinta o almoço a jantar. Alguns sacerdotes acomodavam-se nas dependências da igreja e outros na casa do benfeitor Luís Tacha e outros ainda nas casas do Visconde de Montariol, ao fundo da Quinta. Aí veio a falecer o Fr. Domingos Sanches, fundador do Convento de Montariol, com oitenta anos, em 1929.

Logo em 1928 começou a construção do novo edifício. Numa primeira fase os pavilhões que fecham o claustro. Ainda antes do fim das obras foi possível reinaugurar a igreja, a 8 de Dezembro de 1932. As obras ficaram concluídas em Dezembro de 1934. Entre 1946 e 1948 construiu-se o grande escadório em frente da igreja. De 1961 a 1963 cobriu-se o terraço do pavilhão principal e aí foram colocadas dormitórios e outros serviços.

Quando em 1928 o Colégio de Montariol abriu, começou a ser frequentado por 126 alunos. Em 1934 havia cerca de 110 alunos. Em 1950 o número subiu para 150 aproximadamente. Em 1957 registam-se 170 alunos. Em 1968 estavam matriculados cerca de 200 em Montariol. No ano lectivo de 1978-79 o Colégio de Montariol era frequentado por 98 alunos. Ligado ao Colégio anda a revista Alvorada Missionária, a revista dos alunos. Começou a publicar-se em Tuy como manuscrito, começando a ser impressa em Janeiro de 1927

Até ao princípio dos anos oitenta Montariol foi casa de estudo. Encerrada como tal, passou a receber grupos de reflexão e retiros. Para que haja melhores condições de hospedagem, estão em curso obras de beneficiação no último piso. Estas obras começaram em 2001. Na quinta de Montariol está projectada uma casa para acolhimento de doentes terminais, que será construída com apoio estatal.

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